Realizou-se este sábado no Auditório
Municipal da Régua o Grande Debate de Douro sobre “A Linha do Douro, um futuro
que tarda” contando com a presença de mais de uma centena de convidados,
cidadãos e autarcas interessados em discutir o cenário de reabertura da ligação
transfronteiriça via Barca d’Alva.
A sessão, conduzida pelo jornalista Carlos
Cipriano, contou com a presença dos técnicos especialistas de vias de comunicação,
Alberto Aroso, André Pires, Manuel Tão e com os deputados Ascenso Simões e Luís
Ramos. O Secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme d’Oliveira
Martins, que inicialmente aceitou o convite para encerrar o debate, juntamente
com o presidente da CIM Douro, acabou por não estar presente por motivos
inadiáveis e de força maior.
O Presidente da Câmara Municipal da Régua,
José Manuel Gonçalves referiu que este foi um dia para discutir um projeto de
“interesse nacional como foi provado do ponto de vista técnico” durante o
debate e que “naturalmente traz valor acrescentado à região”. Perante as
afirmações do deputado socialista eleito por Vila Real, Ascenso Simões, que
referiu que a prioridade é o IC26 e não a ferrovia, o autarca reguense argumentou
que são investimentos em planos diferentes. José Manuel Gonçalves reivindicou
que a reabertura da Linha do Douro seja um projeto de ambição nacional.
Carlos Santiago, presidente da CIM Douro,
encerrou o debate apelando ao estado português que encare este projeto “como um
desígnio nacional” que o autarca considera “vital para o sucesso desta região
do norte e um impulso indispensável ao seu desenvolvimento e ao seu futuro”.
Para Carlos Santiago agora é “a vez do Douro”.
Debate técnico apontou para a necessidade iminente de reabertura da linha
Num painel técnico com diferentes perspetivas
sobre o fenómeno ferroviário e sobre a linha do Douro analisou-se o cenário de
reabertura e os casos de sucesso na Europa.
Alberto Aroso destacou o potencial da linha
para o turismo e para as cadeias logísticas realçando a redução da extensão do
percurso entre o Porto de Leixões e Espanha. O especialista de vias de
comunicação referiu-se ainda aos impactos ambientais que serão reduzidos pelo
facto do canal já existir.
André Pires, investigador que se tem
debruçado sobre a ferrovia regional, apresentou diversos casos de sucesso em
que a reabertura de ligações transfronteiriças na Europa tem tido retornos
económicos muito relevantes.
Ascenso Simões, numa intervenção em que pouco
abordou o tema do debate, acabou por afirmar que “a prioridade do partido
socialista em Vila Real é o IC26 e não a ferrovia” e só depois “a eletrificação
entre o Marco e o Pinhão”.
Luís Ramos classificou a discussão “como de
grande coragem” e referindo que “tecnicamente não há razão nenhuma para que a
linha do Douro não seja recuperada” estimando “o custo da reabilitação em 473 M€
o que dá para pagar 2 a 4 estações do metro de Lisboa”. O deputado e professor
universitário na área do planeamento e transportes referiu que “o que se pede
não é mais do que um debate sério, aprofundado e independente considerando
todas as alternativas e os novos dados” referindo que “nenhuma solução que
beneficie o norte e o Porto de Leixões pode ser feita sem colocar o Douro na
equação”. Concluiu a sua intervenção referindo que “hoje não é o sonho
romântico de reabilitar a linha do Douro, é sobretudo pensar no interesse do
Douro, do norte e do país”.
A discussão encerrou-se com o professor
Manuel Tão, da Universidade do Algarve que, partindo das afirmações do
administrador da MEDWAY, referiu que “o ideal é a linha do Douro e não são
necessárias miragens como Aveiro/Mangualde ou Aveiro/Salamanca que já foram
chumbadas duas vezes na Comissão Europeia”. Socorrendo-se de uma imagem atual
da ponte Internacional do Águeda, em Barca d’Alva, Manuel Tão perguntou se este
é um cenário “compaginável com uma Europa sem fronteiras e com a livre
circulações de pessoas, serviços, bens e mercadorias”. O professor universitário
recordou ainda que em 2025 serão imputadas ecotaxas às empresas, pelo
transporte que fazem, e com base nas emissões de carbono. Acrescentou que
durante 32 anos “andamos a brincar às autoestradas com os fundos comunitários” e
“destruímos linhas estratégicas como a Linha do Douro que nos permitiria ter
uma ligação rápida da nossa principal região exportadora para o centro da
Península e para a Europa além Pirenéus.
No evento estiveram ainda representados todos
os partidos políticos com assento parlamentar quer através das estruturas
regionais, como nacionais bem como diversas entidades e autarcas português e
espanhóis.
Num evento que contou com a organização
conjunto da Associação Vale d’Ouro e da Câmara Municipal da Régua, Luís
Almeida, Presidente da Direção da Associação Vale d’Ouro, fez um balanço
positivo: “quisemos pôr a região a discutir estes números e estes dados”.
Acrescentou que “ficou claro que ainda há muito a dizer sobre a Linha do Douro
e que há muitas pessoas e entidades a querer contribuir”. O dirigente
associativo lamentou ainda a ausência de uma representação do governo apesar de
todos os esforços encetados nesse sentido.
No final, os vários autarcas presentes
advogaram que esta discussão irá continuar e disponibilizaram-se a, curto
prazo, continuar a promover iniciativas semelhantes.